quinta-feira, 8 de abril de 2010

BIMBINHA, O ENTORTADOR DO MARANHÃO

Ele parecia um capetinha. Baixinho e rápido, quando sacudia o esqueleto diante de um adversário, para lhe barrarem, só no tranco. Pra variar, era irmão de Reinaldo e de Egui, dois cobrões das peladas do bairro Tamancão, em São Luis. Um dia, Egui não pode comparecer a um compromisso do time do Atlântico. Na emergência, o jeito foi o treinador chamar um pirralho que vira "vestido de jogador", do lado dos irmãos, pra quebrar-lhe um galho. Resultado: depois do jogo, o homem teve trabalho para tirar o guri da sua equipe. Percebeu, logo, que o garoto era muito mais talentoso do que o irmão titular.
Mas foi por outras hostes, a do Pedrinhas, que o baixinho aconteceu, de montão. A sua turma foi convidada a enfrentar o Onze Irmãos, time de presidiários, e ele matou a pau. Terminou “preso”, pelo diretor da csa de detenção, José Carlos Viana Mendes, que chegou-lhe no cantão, avisando. "Moleque, você só sai daqui se der bode!". Ele queria dizer que o carinha estava intimado a vestir a camisa do Bode Gregório, o nome pelo qual a torcida do Maranhão Atlético Clube chama o seu clube, do qual o "delega" era um dos cartolas.
Pra se ver livre do diretor do presídio, o endiabrado e intimado atacante topou, no ato, respeitar a ameaça do homem. Só que, malandramente, aplicou um tremendo "estelionato desportivo"e na autoridade. e foi rolar a bola com os juvenis do Sampaio Correa. Nos "Bolivianos", apelido da agremiação, que tem as mesmas cores da bandeira da Bolívia, o sujeitinho tornou-se um dos maiores jogadores da história do futebol maranhense.
Com vocês, Bimbinha! Mais precisamente, Reginaldo Castro, maranhense nascido em 10 de junho de 1956, no Tamancão, vizinho do famoso bairro do Bacanga.
APELIDO CERTO - Bimbinha não poderia ser conhecido por um outro nome. Medindo 1m47 e calçando 35, no auge da carreira, ele pesava 51 quilos e ganhava o mais baixo salário no time. Ninguém jamais assistiu a uma partida em que tivesse jogado mal. Sempre atuou regular, ou brilhantemente. Nunca medíocre. Verdade! Por isso era chamado de “Xodó da Vovo” e “Alegria do Povo”. Quando o meio-de-campo esticava uma bola para, pela esquerda, o pobre do marcador já sabia: seria desconjuntado. E ouviria a galera gritar: “ Ripa na chulipa!” De frente pro gol, Bimbinha era fatal. Pelo menos, é o que contam os cerca de 250 gols que marcou.
Bimbinha ponta Djalma Campos como o principal responsável pela sua historia. Em 1975, aquele o levou, para o Sampaio, após vê-lo pintar os canecos numa pelada na salina do Tamancão. Em dois anos, passou, dos juvenis, para o time principal, ganhando o titulo de “Pequeno Prodígio”.
Até 1988, quando defendeu os "Bolivianos", Bimbinha conquistou dois títulos estaduais, como juvenil, e mais nove, como profissional. “Eu esperava pendurar as chuteiras no Sampaio. Depois, ser aproveitado, como treinador de escolinhas, coisas assim. Mas saí sem darem baixa na minha carteira de trabalho, sem receber o Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho, dinheiro algum. Não tive a coragem de brigar com o clube. Se tivesse de recorrer contra os dirigentes, tudo bem, seria uma forma de protestar contra a decisão absurda, de me jogarem fora. Esqueceram que o Bimbinha deu muitas alegrias aos tricolores e merecia mais respeito. Nunca fiz bons contratos. Não sei se, por coincidência, sempre que deveria renová-los o clube estava em crise. Eu acreditava nos dirigentes, assinava fiado, para receber amanhã, e o tal amanhã nunca chegava”, desabafou ele, pelo jornal O Imparcial, de 22.11.1989.
Bimbinha demorou a se recuperar do trauma da dispensa do Sampaio. “Como podiam esquecer de certas coisas? Por exemplo: em 1983, fui emprestado à Izabelense, do Pará, e o Moto Clube foi o campeão maranhense. Na minha volta, em 84, recuperamos o titulo, com um gol meu, na final contra o Bode”, exemplifica.
VEREANÇA - Filho de uma família de oito irmãos (quatro homens e quatro mulheres), Bimbinha lançou-se candidato a vereador, por São Luis, em 1988, mas teve de retirar a candidatura. “O presidente do Sampaio não poderia ter concorrentes dentro do clube, pois a fase do clube era ruim e ele precisava se reeleger. Terminei concordando e retirando a minha candidatura”, contou, tmbém, ao Imparcial.
A vingança de Bimbinha, contra os cartolas, aconteceu em 1989. Ele foi para o rival Moto Clube, que levou o título de campeão maranhense, que não conquistava desde 84. Pena que não tivesse sido tão bom assim, para ele. Os dirigentes rubro-negros o viam com certa desconfiança, como se ele fosse um olheiro dos rivais tricolores. Além do mais, o trauma da sua saída do Sampaio fizera Lamartine ficar em melhor forma, lhe sentar no banco e lhe tirar o titulo de melhor ponta esquerda do Maranhão. Bimbinha sentiu que não ali não dava para ele, abandono os treinos e encerrou a sua história "motense".
Casado, com Silvana, e pai de Regis e Silvano, Bimbinha teve Zico e Roberto Dinamite por seus ídolos, nos tempos em que entortava os marcadores. Jogou, ainda, pelo Expressinho e o Tupã, ambos maranhenses. A carreira de treinador não foi longe. Hoje, joga peladas, pelo Maranhão, ganhando pequenas cotas, para sobrevier com o nome feito às custas de muitas entortadas nos becões que desempregava

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