quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ROMANCE (DO BRASIL) DA COPA DO MUNDO- 11

             Seleção Brasileria espremida pela "Laranja", em 1974
 Com o Brasil dono, em definitivo, da Taça Jules Rimet, a Copa do Mundo de 1974 colocou em jogo a Taça FIFA, de ouro maciço – 18 quilates – , com 37 centímetros de altura e pesando cinco quilos. Produzida pelo escultor italiano Silvio Gazzaniga, que venceu outros 52 projetos, o troféu foi fabricado em Milão, pela Casa Bertoni, e passou a ser de posse transitória. Cada vencedor passaria a ter o seu nome gravado na base e o repassaria, quatro anos depois, a um outro campeão – caso isso ocorresse – e ficaria com uma réplica.
A Copa-94 começou com um problema político. Porque a FIFA aceitara a inscrição da Coréia do Norte, fora do prazo, alguns países, em protesto, boicotaram a promoção, que passava a garantir vagas a todos os continentes, exceto à Oceania, obrigada a duelar – e vencer – a Coréia do Sul. Noventa seleções foram para as Eliminatórias, que preservaram o Brasil, campeão do último Mundial, e a Alemanha, a nova promotora. Ao final dessa fase, as novidades eram a Austrália, o Haiti e o Zaire, sem nenhuma tradição no futebol. Inglaterra e Espanha, desclassificadas, respectivamente, por Polônia e a então Iugoslávia, era as ausências reclamadas.
 O Mundial da Alemanha teve, ainda, nova forma de disputa. Desprezou-se a eliminação nas quartas-de-final e nas semifinais, para a formação de dois grupos, totalizando oito equipes, as duas melhores dos quatro chaves da fase inicial. No duelo em duas novas divisões de quatro times, os dois primeiros de cada uma iria para a final, enquanto os segundos colocados disputariam o terceiro lugar da Copa.
BRASIL SEM REI – Pelé já havia abandonado a Seleção Brasileira. Fazendo marketing para uma empresa multinacional norte-americana, ele limitou-se a participar das solenidades de abertura. Enquanto isso, o time do técnico Mário Jorge Lobo Zagallo mantinha Wilson Piazza, Jairzinho, Rivellino e Paulo César “Caju” do grupo titular que jogara durante a campanha do tri. Dos que estavam no grupo de 1970, mas não haviam jogado, o goleiro Leão e o lateral-direito Zé Maria eram os novos donos de suas posições.

Até chegar a 13 de junho de 1974, quando estreou, empatando, 0 x 0, com a então Iugoslávia (foto), o time canarinho havia feito 12 amistosos, naquele ano, com oito vitórias e quatro empates. Este retrospecto não animava, pois as igualdades no placar haviam sido com equipes fracas – México, Grécia, Áustria e até um time francês chamado Racing Pierrot –, além do que o time não se definia. Na abertura da Copa, no Waldstadion, em Frankfurt, 59 mil testemunhas viram os iugoslavos merecendo muito mais a vitória, pois colocaram até bola na trave. Pelo lado brasileiro, apenas os dois Marinhos, o Perez e o Chagas, estiveram bem.
O Brasil jogou com: Leão: Nelinho, Luís Pereira, Marinhoi Perez e Marinho Chagas; Piazza, Rivellino e Paulo César; Jairzinho, Mirandinha e Leivinha (Paulo César Carpeggiani). Iugoslávia, treinada por Miljan Miljanic, alinhou: Maric; Buljan, Katalinski, Bogicevic e Hadziabdic; Muzinic, Oblak e Acimovic; Ilija Petkovic, Surjak e Dzahuc. O suíço Rudolf Scheurer apitou a partida.
No jogo seguinte, em 18 de junho, no mesmo estádio, a Seleção Brasileira repetiu o indesejável 0 x 0 da partida anterior – terceira abertura consecutiva da Copa com aquele placar –, se enganchando nos escoceses. Na verdade, repetiu tudo: escalação inicial, substituição e incapacidade de vencer, decepcionando 62 mil assistentes. Sem comentários! Brasil: Leão; Nelinho, Luís Pereira, Marinho Perez e Marinho Chagas; Piazza, Rivellino e Paulo César; Jairzinho, Mirandinha e Leivinha (Carpeggiani). Escócia, do técnico William Ormond, foi: Harvey; Jardini, McGrain, Holton e Buchan; Bremner, Hay e Dalglish; Morgan,Jordan e Lorimer. O holandês Arie Van Gemmert apitou.
VENCE OU VOLTA – Como a Iugoslávia havia feito 9 x 0 e a Escócia 2 x 0 sobre o Zaire, o Brasil teria que ganhar, por muitos gols, do time africano, para não depender de iugoslavos e escoceses – ficaram no 1 x 1. Conseguiu, com 3 x 0, que passaram por um frango do goleiro da equipe treinada pelo iugoslavo Blagoje Vidinic. A Seleção seguiu em frente, em 22 de junho, no Parkstadion, em Gelsenkirchen, com gols de Jairzinho, aos 13 minutos do primeiro tempo; de Rivellino, aos 22, e de Valdomiro, aos 34 do segundo. Nicolae Rainea, da Romênia, apitou o jogo, assistido por 35 mil presentes. O Brasil teve: Leão; Nelinho, Luís Pereira, Marinho Perez e Marinho Chagas; Piazza (Mirandinha), Rivelino e Paulo César; Jairzinho, Leivinha (Valdomiro) e Edu. O Zaire formou com: Kazadi; Mwepu, Mukombo, Buhanga e Lobilo; Kibonge, Tshinabu (Kembo) e Mana; Ntumba, Kidumu (Kilasu) e Myanga.
Classificado, no sufoco, o Brasil teve mais dificuldades pela frente. No dia 26, ganhou da Alemanha Oriental, 1 x 0, contando com a  malandragem. Aos 16 minutos do segundo tempo, falta contra a então República Democrática Alemã. Rivellino ajeita a bola e Jairzinho se introduz no meio da barreira. Riva bate em cima do Furacão, que se abaixa. É gol. A malandragem merece aplausos dos 58.463 presentes ao Niedersachenstadion, em Hannover. No mais, o Brasil não brilhou. Aceitou o jogo do adversário, que era não deixá-lo jogar. Por isso, não se incomodou com a sua retranca. Um golzinho estava bom demais.
A Seleção do dia foi: Leão; Zé Maria, Luís Pereira, Marinho Perez e Marinho Chagas; Carpeggiani, Rivellino e Paulo César “Caju”; Valdomiro, Jairzinho e Dirceu. O técnico George Buschner escalou a DDR assim: Croy; Kisch, Waetzlich, Lauck (Löwe) e Bransche; Weise, Streich e Hamman; Sparwasser, Kurbjuweit e Hoffman. O árbitro foi Clive Tlhomas, do País de Gales.
Quatro dias depois, no mesmo estádio, vieram os argentinos. E o Brasil seguiu vencendo: 2 x 1. Rivellino, aos 32 minutos do primeiro tempo, e Jairzinho, aos 3 do segundo, marcaram os nossos gols. Brindisi, aos34, da etapa inicial, fez o deles. O time foi o mesmo da partida passada, enquanto Vladislao Cap escalou “los hermanos” com: Carnevali; Glaria, Heredia, Bargas e Sá (Carrascosa); Brindisi, Squeo e Babington; Balbuena, Ayala e Kempes (Houseman). O belga Vital Loraux apitou o jogo, que teve 38 mil assistentes.
SUCO DE LARANJA – O futebol canarinho estava infinitamente distante do jogado, há quatro anos, no México. Mesmo assim, o Brasil ia chegando perto da final. Em 3 de julho, no entanto, o sonho do tetra esbarrou na seleção holandesa, a “Laranja Mecânica”. Era o time sensação da Copa, treinado por Rinus Mitchel, que armara um esquema tático repleto de variantes, executadas por jogadores polivalentes. O mundo passava a conhecer o “Carrossel Holandês”, pilotado por Cruyff.
Até chegar ao confronto com o Brasil (foto), a Holanda só empacara na Suécia, 0 x 0, em seu segundo jogo. No mais: 2 x 0 Uruguai; 4 x 1 Bulgária; 4 x 0 Argentina e 2 x 0 Alemanha Oriental. A turma de Cruyff, Neeskens, Rep, Resenbrink, Van Hanegen estava demais. Se bem que andou dando uns vacilos e deixando Jairzinho e Paulo César em boas condições para marcar, no primeiro tempo do jogo contra o Brasil. No segundo tempo, porém, aos 5 minutos, Neskens abriu o placar. Aos 20, Cruyff fez o segundo, com os brasileiros reclamando impedimento. Aos 40, Luís Pereira foi expulso de campo.
O Brasil jogou com: Leão; Zé Maria, Luís Pereira, Marinho Perez e Marinho Chagas; Carpeggiani, Rivellino e Paulo César (Mirandinha); Valdomiro, Jairzinho e Dirceu. Holanda: Jonglbloed; Suurbier, Krol, Hann e Rijsbergen; Neeskens (Israel), Van Habnegen e Jansen; Rep, Cruyff e Resenbrinck (De Jong). A assistência foi de 52.500 pagantes e o apito do alemão oriental Kurt Tschencher.
Restava ao Brasil, disputar o terceiro lugar, com a Polônia. Aconteceu em 6 de julho, no Estádio Olímpico de Munique, sob as vistas de 74.100 pagantes. O jogo marcou a despedida da Seleção de Ademir da Guia, um dos maiores nomes do futebol brasileiro e que só fizera aquela partida em Copas do Mundo.
Os poloneses, também, vinham sendo sensação naquele Mundial. Seus resultados: 3 x 2 Argentina; 7 x 0 Haiti; 2 x 1 Itália; 1 x 0 Suécia; 2 x 1 Iugoslávia e 0 x 1 Alemanha Ocidental. Foi a sua melhor seleção em Copas do Mundo com destaques para o goleiro Tomaszewski, o apoiador Deyna e os ponteiros Lato e Godocha. Por sinal, foi Lato o autor do gol da vitória, por 1 x 0, sobre o Brasil, aos 30 minutos do segundo tempo, percorrendo 50 metros com bola dominada, aproveitando-se de uma avenida deixada aberta por Marinho Chagas.
O Brasil formou com: Leão; Zé Maria, Alfredo Mostarda, Marinho Perez e Marinho Chagas; Carpeggiani, Ademir da Guia (foto) (Mirandinha) e Rivellino; Valdomiro, Jairzinho e Dirceu. Os poloneses, treinados por Kazimiersz Gorski, foram: Tomaszewski; Szymanowski, Zmuda, Gorgon e Musial; Kasperczak (Cmikiewcz), Kazimiersz Deyna e Maszcyk; Grzegorz Lato, Szamach (Kapka) e Robert Godocha.
A FINAL - Em 7 de julho, no Estádio Olímpico de Munique, os donos da festa conquistaram o seu segundo título mundial – o primeiro havia sido na Copa de 1954, na Suiça –, vencendo a favorita Holanda, por 2 x 1. Na vez passada, o adversário, a Hungria, também era o favorito.
Com um minuto de jogo, sem que os alemães tivessem tocado na bola, a Holanda já abriu o placar, com Neeskens cobrando um pênalti, sofrido por Cruyff. Mas o encantador futebol da “Laranja” não se encorpou depois do tento. O time de Rinus Mitchel deixou o concorrente chegar nele e empatar, aos 26, com Breitner, também, cobrando pênalti. No segundo tempo, aos 44 minutos, Gerd Müller fez o tento da vitória alemã: 2 x 1.
Não fora por acaso que o capitão Franz Beckenbauer, eleito o craque da Copa, levantara a primeira Taça FIFA em jogo. Basta conferir os placares alemães: 1 x 0 Chile; 3 x 0 Austrália; 0 x 1 Alemanha Oriental; 2 x 0 Iugoslávia; 4x 2 Suécia e 1 x 0 Polônia, antes da final. Especulou-se muito que a derrota para a vizinhos orientais foi proposital, para fugir de uma tabela que não interessava, em caso de vitória.
A Alemanha do jogo final foi: Maier; Vogts, Schwarzenbeck, Hoeness e Breitner; Beckenbauer, Bonhof e Overath; Grabowski, Muller e Holzenbein. O técnico era Helmuth Schoen. A Holanda teve: Jongbloed; Suurbier, Rudi Krol, Hann e Willem Rijsbergen (De Jong); Neeskens, Van Hanegen e Jansen; Rep, Cruyff e Resenbrinck ( René Van der Kerkhof). O jogo teve 60 mil espectadores e apito do inglês John Taylor.
TODOS OS RESULTADOS – Alemanha Ocidental 1 x 0 Chile; Austrália 0 x 2 Alemanha Oriental; Alemanha Ocidental 3 x 0 Austrália; Austrália 0 x 0 Chile; Alemanha Oriental 1 x 0 Alemanha Ocidental; Brasil 0 x 0 Iugoslávia; Escócia 2 x 0 Zaire; Iugoslávia 9 x 0 Zaire; Escócia 0 x 0 Brasil; Brasil 3 x 0 Zaire; Iugoslávia 1 x 1 Escócia; Suécia 0 x 0 Bulgária; Holanda 2 x 0 Uruguai; Holanda 0 x 0 Suécia; Bulgária 1 x 1 Uruguai; Suécia 3 x 0 Uruguai; Holanda 4 x 1 Bulgária; Itália 3 x 1 Haiti; Polônia 3 x 2 Argentina: Polônia 7 x 0 Haiti; Argentina 1 x 1 Itália; Argentina 4 x 1 Haiti; Polônia 2 x 1 Itália; Holanda 4 x 0 Argentina; Polônia 1 x 0 Suécia; Polônia 2 x 1 Iugoslávia; Alemanha Ocidental 4 x 2 Suécia; Alemanha Ocidental 1 x 0 Polônia; Suécia 2 x 1 Iugoslávia; Polônia 1 x 0 Brasil e Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda.
CLASSIFICAÇÃO FINAL – 1- Alemanha Ocidental: 2 – Holanda: 3 – Polônia; 4 – BRASIL; 5 – Suécia; 6 – Alemanha Oriental; 7 – Iugoslávia; 8 - Argentina; 9 – Escócia; 10 – Itália; 11 – Chile; 12 – Bulgária; 13 – Uruguai; 14 – Austrália; 15 – Haiti e 15 – Zaire.

Nenhum comentário:

Postar um comentário